Simulador, simcade e arcade – as diferenças entre cada estilo

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Marcelo Jabulas | @mjabulas – Desde os primórdios, até hoje em dia… o homem categoriza coisas. Eram frutinhas boas e venenosas, bicho manso e o selvagem, e hoje se categoriza tudo, até pensamento. No mundos games não é diferente. Se há 40 anos tudo era videogame, hoje a segmentações para diferentes estilos: tiro, corrida, futebol, RPG e por aí vai. No entanto, surgiram os nichos dos nichos. Como é o caso dos games de corrida.

Hoje existem três segmentos muito distintos: arcade, simcade e simulador. Eles se diferem pelo nível de realismo e desafio, pela ordem apresentada. Mas essa categorização é quase apócrifa, o que gera discussões calorosas nas redes sociais. É como se todos os problemas da humanidade se resolvessem se Need For Speed tivesse outra prateleira para não ficar ao lado de rFactor. Mas isso não era assim.

Anos 1980

Lá atrás tudo era corrida. Games de fliperamas como Out Run, Zip Race, Super Off-Road, Rally-X, assim como produções para Atari, como “Enduro” faziam parte do mesmo balaio. Tinha corrida de tudo, barco, cavalo, motoca, era uma festa. Aí surgiram os simuladores para computador, com seus gráficos poligonais, mas com uma reprodução de física que buscava fidelidade com a realidade.

Títulos como Indianapolis 500 e Super Monaco GP, poderiam ser facilmente confundidos, devido a visão do cockpit. Mas eram muito diferentes. O primeiro era um simulador, o segundo um game para arcade (fliperama). Jogar Super Monaco tem seu desafio, como o cronômetro correndo para te obrigar a colocar mais uma ficha. Mas Indy 500 exigia concentração absoluta em suas 200 voltas.

Então o mundo se dividia assim: simulador para o PC e arcade para fliperamas e consoles. Eram públicos distintos. No início dos anos 1990 não era todo mundo que podia ostentar um 386 DX com um charmoso monitor de tubo 14 polegadas em casa. Fator que reduzia o público dos simuladores. Por outro lado, os consoles não tinham capacidade de processamento de ir além do que ofereciam.

Dois mundos

Claro que diversos games tiveram edições para consoles e PC. Mas demandavam desenvolvimentos paralelos com estúdios diferentes. No final dos anos 1980, Lakers Vs Celtics And The NBA Playoffs era muito diferente em suas edições para PC e Mega Drive. O mesmo acontecia como Kings of The Beach, que tive edições distintas para DOS e Nintendo, mesmo respeitando as definições de layout e estética. Na década de 1990, as edições de Medal of Honor eram distintas nas versões para PC em relação ao PS1.

Mas na seara dos jogos de corrida era diferente. Poucos jogos como Super Off-Road conviviam nos dois mundos. Se o amigo não tivesse um PC para jogar NASCAR Racing ou Stunts, o jeito era acelerar em Top Gear (que é maravilhoso), Super Mônaco e similares.

CD-ROM

Mas com a chegada das gerações 32 bits e das mídias em disco os games para consoles evoluíram. Ao mesmo tempo, os PCs também receberam seus kits multimídia (drive de disco, placa de áudio, caixa de som e microfones) que tornaram seus games mais amigáveis e com a possibilidade de expandir o armazenamento para absurdos 650 MB. Pode parecer mixaria hoje, mas comparado com os 1,44 MB de um disquete de 3,5 polegadas era como sair de uma bacia para uma piscina olímpica.

Assim surgiram franquias como The Need For Speed e Gran Turismo. E outras que já existiam no PC como Test Drive foram se sofisticando. Assim, com consoles mais poderosos e PCs mais amigáveis, muitas produções passaram a ter desenvolvimento para múltiplas plataformas. Um mesmo título tinha versão para PC, Saturn e PS1. O primeiro NFS é um exemplo. E a coisa foi evoluindo para uma mistureba que, mais tarde gerou o chamado simcade.

Simcade

O simcade é uma expressão coloquial, mas tem sua função. Esse tipo de jogo nada mais é que um game que busca uma jogabilidade mais desafiadora, mas sem ser tão realista como um simulador. Ele é mais difícil que um arcade, mas negligencia comportamentos dinâmicos precisos de um automóvel, que se obtém nos simuladores mais refinados. Mas nem por isso é menos interessante.

Muito pelo contrário os simcade se tornaram o ponto de equilíbrio entre os jogos de corrida. Eles não exigem longas jornadas de treinos, afinações como um simulador. Mas também não são tão simplório como os arcades. Não é a toa que muitos estúdios que no passado buscavam experiências voltadas para simulação se enveredaram no simcade, como a britânica Codemasters.

Outros estúdios como o competente SimBin, de títulos como GT Legends, GTR 2 e Race 07 não conseguiu manter de pé. O fundador Ian Bell, abriu a Slightly Mad Studios, que produziu o excelente Project CARS, que foi um dos melhores simuladores do início da atual geração de consoles, mas que hoje se transformou em simcade com Project CARS 3, por pura necessidade mercadológica.

Números

Afinal, contra fatos não há argumentos. Franquias de corrida arcade vendem muito Super Mario Kart e Need For Speed acumulam mais de 150 milhões de cópias vendidas desde os anos 1990. Já Gran Turismo, que é um simcade, acumula 85 milhões em vendas. Já o simulador iRacing, que funciona por assinatura, tem média de 50 mil usuários ativos.

Em um gráfico que pode ser obtido facilmente na Steam, comparamos volume de jogadores simultâneos de iRacing e Need For Speed Heat. Eles representam o extremo oposto entre jogos de corrida. Um simulador e um arcade.

Num gráfico que indicava o desempenho em sete dias (de 1º a oito de outubro de 2020), no dia sábado (3 de outubro) às 12h, iRacing teve seu maior pico com 346 jogadores simultâneos. Já NFS Heat anotava 1.395 gamers logados.

Isso não significa que simuladores sejam ruins. Longe disso, mas reflete um fato de que games muito realistas têm públicos menores, devido ao nível elevado de desafio. Isso sem falar com os gastos astronômicos para montar um setup competitivo. Por outro lado, para jogar um arcade, basta qualquer console, sem a menor exigência de treino.

Mas qual jogar: arcade, simcade ou simulador? Vamos te ajudar, com algumas opções

Arcade

Forza Horizon 4 (PC e Xbox One)

Sem sombra de dúvidas, um dos arcades mais legais que você poderá jogar. Horizon 4 é um game de mundo aberto com uma infinidade de provas e carros. Com excelentes gráficos, o negócio é vencer os desafios propostos numa espécie de gincana automotiva que acontece no Reino Unido. Apesar de não exigir perícia de um piloto, o game tem seu nível de desafio. Imperdível

Need For Speed Heat (PC, PS4 e Xbox One)

NFS foi pioneira na convergência dos games de PC e consoles, em 1994. Heat é o episódio mais recente da franquia. Ele segue a mesma receita que definida em 2003, com Underground: corridas de rua e modificação de carros. Nesse jogo dá até mesmo para customizar o visual do personagem. A jogabilidade é extremamente simples e seu carro e indestrutível sem menor pretensão com realismo.

The Crew 2 (PC, PS4 e Xbox One)

Está série foi a aposta da Ubisoft para entrar no mercado de jogos de corrida. Ela criou um game que mistura carros, motos, barcos e aviões. Suas provas desafiam todas as leis da física. Saltos com um Porsche sobre prédios, corridas de lancha com cataratas, provas aéreas entre sequoias. Ele consegue atrair a ira de um jogador de iRacing e Flight Simulator ao mesmo tempo. Mas é uma delícia para quem apenas se divertir

Simcade

Forza Motorsport 7 (PC, Xbox One)

Forza nasceu para ser o Gran Turismo do Xbox e foi além. Hoje a franquia se divide na série Motorsport e Horizon. A primeira focada no simcade, com nível de pilotagem mais avançado, provas em autódromos e diferentes regulagens dos carros. Horizon é um game de mundo aberto, com provas insanas e extremamente divertidas, bem aos moldes de Need For Speed.

Gran Turismo Sport (PS4)

A popular série de corridas para PlayStation teve apenas uma edição para PS4 e apostou suas fichas em provas de eSports, com um calendário repleto de provas. Todo dia se pode entrar participar de uma das corridas, assim com se inscrever em campeonatos.

Gran Turismo ajudou a moldar o formato simcade, há 25 anos. Ele oferece física mais apurada que um arcade, condução mais complexa, mas fecha os olhos para comportamentos dinâmicos que na realidade resultariam em uma tragédia.

Grid (PC, PS4, Xbox One e Stadia)

Publicado no final de 2019, a nova edição da franquia da Codemaster deu uma afrouxada boa na dificuldade. Mas nem por isso tornou o game sem graça. O game mantém o estilo de progressão de carreira do jogador. É preciso pontuar para abrir novos desafios. Com corridas curtas e ótimos gráficos, é um game despachado. Sem ajustes ou firulas. É possível criar competições e até mesmo alugar carros, rateando as premiações.

Simulador

Assetto Corsa (PC, PS4 e Xbox One)

Assetto chegou ao mercado no final de 2013 e se firmou como um dos grandes games de simulação. Nele há uma lista respeitável de carros e pistas. O game permite ajustar todos os parâmetros do carro e as pistas foram digitalizadas com precisão milimétrica.

É um game difícil, ideal para disputas em rede, principalmente na edição para PC. Mas é preciso um computador de alto desempenho, bom volante, pedaleira e se possível um cockpit para extrair o máximo que esse game entrega. Esse não é para brincar, é para competir mesmo.

iRacing (PC)

Lançado em 2008, iRacing rivaliza com rFactor a preferências dos pilotos virtuais. Hoje o jogo se transformou num grande ecossistema de corridas, em que é preciso pagar assinatura para correr. iRacing oferece incontáveis modalidades, pistas e carros. Com foco total em competições, é um jogo que hoje realiza campeonatos que chegam a pagar até US$ 100 mil em premiações.

Mas para correr bem, além de treino e dedicação, é necessário um investimento pesado em hardware, que parte dos R$ 10 mil e ultrapassar os R$ 200 mil. Computador, cockpit, volante, pedaleira e até mesmo óculos de realidade virtual, que reproduz o movimento da cabeça e ajuda o piloto a enxergar as laterais.

Project CARS (PC, PS4 e Xbox One)

O primeiro game da Slightly Mad Studios foi desenvolvido com recursos de um fundo coletivo. O game é excelente simulador. Por muitos é apontado como a melhor edição, pois era totalmente focado na pilotagem.

Com uma boa lista de carros e traçados, o game tem gráficos agradáveis, mas longe do fotorealismo de Gran Turismo Sport. Mesmo assim, é uma excelente pedida para quem busca uma experiência mais realista e tirar todo proveito daquele volante Logitech estribado.


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