Marcelo Jabulas | @mjabulas – No dia 23 de junho o Nintendo 64 completou 25 anos de seu lançamento. N64 foi o último console de mesa a apostar em games que utilizam cartuchos como mídia. Enquanto PlayStation, Sega Saturn e o consórcio 3DO apostavam em aparelhos que rodavam CD-ROM, a Big N seguiu com a mídia elaborada pela Atari em 1977.
Naquela época a Nintendo mandava no mercado de games. Na década de 1980 ela se firmou como a gigante dos games com o NES (Famicom, no Japão). Ao todo foram 62 milhões de unidades vendidas.
Número que a Sega não conseguiu chegar perto com o Master System (10 milhões) e nem mesmo com o Mega Drive (30 milhões). A soberania da Big N só cresceu, com as chegadas do Game Boy (118 milhões) e do Super Nintendo (49 milhões de unidades).
Revolução dos discos
A Nintendo era a empresa a ser batida. Em 1991, a Sega apostou numa nova mídia para conseguir roubar a freguesia de Super Mario. O Sega CD era um projeto que apostava em games em forma de CD-ROM.
O aparelho era uma acessório anexado ao Mega Drive. Estava longe de ser a solução perfeita, mas era o embrião do console de videogame que ainda vigora nos dias de hoje. Era a Caixa de Pandora que se abria.
A Sega viu que o modelo tinha viabilidade pois a capacidade do CD era muito maior que a de um cartucho. Isso sem contar que o processo de fabricação era bem mais simples. Um cartucho demanda de uma placa, semicondutores e um núcleo de gravação. Além disso, no início dos anos 1990 ainda não existia a pirataria de discos, como existia com os cartuchos.
A Nintendo então resolveu apostar nas bolachinhas digitais. Mas faltava tecnologia. Então ela foi bater na porta da Sony, para desenvolver um protótipo, que atendeu a encomenda. O aparelho era um híbrido que misturava o Super Nintendo com uma entrada de CD.
O problema é que a garapa azedou. A Nintendo não gostou do que tinha visto e decidiu não investir no projeto. Em 1995 nascia o PlayStation, que se tornaria a maior divisão de games do mundo.
O Nintendo 64
A solução para a Nintendo se modernizar foi apostar em outro console com cartucho, mas com tecnologia 64 bits. O N64 chegou com o aval de seu principal garoto propaganda, Super Mario. Seis meses antes, a empresa levou o console para uma exposição no Japão, o que fez do aparelho um sonho de consumo imediato. Ao contrário de qualquer outro console, ele permitia conectar até quatro joysticks. Ou seja, deixava de ser um videogame para dois jogadores para ser um videogame para jogar com a turma toda.
Em junho de 1996, junto com o aparelho, a Nintendo publicou “Super Mario 64”, da mesma forma que tinha feito cinco anos antes, quando lançou “Super Mario World”, junto com o Super Nintendo. O novo “Mario” explorou as potencialidades 3D do console e seu joystick futurista, com a inédita alavanca analógica, que passaria a ser adotada no PlayStation e no futuro Sega Dreamcast.
O controle com três pontas ainda contava com gatilho na haste central, para games de tiro e um conector para o Rumble Pack. Ele era uma acessório produzia vibração no joystick, como resposta as reações do que acontecia na tela. Se hoje, os joysticks contam vibrações, agradeça ao 64.
O Nintendo 64 foi muito bem recebido pelo mercado e pela mídia especializada, que o considerava como um dos melhores consoles já fabricados. No primeiro dia de vendas, ele vendeu as 300 mil unidades que a empresa tinha produzido.
Na época, questionada por não adotar o leitor ótico, a Big N argumentou que o tempo de carregamento dos jogos em disco atrapalhavam a experiência do jogador. Fazia sentido, afinal um game de PS1 demorava uma vida para carregar cada mudança de fase.
Games
Um dos pilares que sustentaram o sucesso do console foi sua lista de games, que tinha como base franquias exclusivas como “Zelda”, “Cruis’n”, “Super Mario Kart”, “Star Fox”, e “Pokemon”. Franquias que manteve antigos fãs vinculados à fabricante.
Além disso, o console foi responsável por quebrar a barreira dos games de tiro em primeira pessoa (FPS) nos aparelhos de mesa. Até aquela época os games de tiro eram exclusividade dos computadores. É bem verdade que “Doom” ganhou uma edição para Super Nintendo, em 1993, mas nem se comprava com o dinamismo da versão para PC.
No entanto, “GoldenEye 007” mostrou que o comando analógico do joystick permitiria rodar games com visão 360 graus, mover a câmera para cima e para baixo, como acontece em qualquer game atual. Era o jogo adulto que o console precisava. O 64 ainda recebeu títulos mais agressivos como “Resident Evil 2” e “Doom 64”.
Em 2002 e 33 milhões de unidades comercializadas o Nintendo 64 saiu de linha para a chegada do Game Cube. Console que finalmente colocava a Nintendo na era do leitor ótico. Mas o estrago já tinha sido feito. O PlayStation já era o console mais vendido do mundo, com mais de 100 milhões de unidades e o PS2 (o mais vendido da história com 155 milhões) já tinha dois anos de mercado.
Se olharmos para trás, a Nintendo vacilou feio e deixou o cavalo passar arreado. Mas sem esse tropeço, não teríamos um dos consoles mais legais da Big N.