Marcelo Jabulas | @mjabulas – Muitos games abordam fatos históricos. “Guevara” é um deles. O game publicado pela SNK em 1987 para arcade tem como pano de fundo a Revolução Cubana, de 1959. Evento liderado por Ernesto “Che” Guevara e Fidel Castro, que culminou na queda do regime de Fulgêncio Batista.
O jogo poderia ser apenas mais um game que busca inspiração na história contemporânea, como os incontáveis jogos sobre a Segunda Guerra Mundial. O detalhe é que o game foi publicado durante a tensão da Guerra Fria. Quem viveu naquela época vivia com pavor de quando Estados Unidos e União Soviética iniciaram um confronto nuclear.
E para complicar, naqueles anos, qualquer coisa que exaltasse o nome de Fidel era visto com maus olhos pelo Tio Sam. Mesmo assim a SNK, lançou o game, que tinha a foto do revolucionário argentino nas primeiras telas.
Não que fosse proibido falar de Fidel Castro, Che, Batista ou Cuba nos EUA. Mas certamente qualquer publisher poderia criar uma dor de cabeça. Afinal, eram dias de Guerra Fria, e Fidel fazia composição com o Kremlin.
As referências ao episódio de 1959 aparecem apenas nos folhetos das edições japonesas, que contam inclusive com a famosa foto de Ernesto Guevara. Para o mercado ocidental o arcade foi rebatizado de “Guerrilla War”.
A trama se resume na história de dois soldados que lutam contra um tirano, em uma ilha. Mas não era preciso ser um cartógrafo ou diplomata na ONU para saber do que se tratava.
Guerrilla War
Como “Guerrilla War”, o game ganhou diferentes adaptações que buscaram descaracterizar o enredo original. A Data East, por exemplo, desenvolveu arte de capa que colocava um cara maromba com barba rala, chapéu do Mario e uma M60 cuspindo fogo, no melhor estilo Rambo.
A arte ainda mostrava uma locomotiva com estrela vermelha e um helicóptero de combate MI-24 “Hind”. Se alguém perguntasse, era só um boina verde tocando o fogo na cortina de ferro.
A edição para NES, por sua vez, chegou em 1989 e colocava dois soldados, um barbudo (com jeitão de boneco Falcon) e outro com boina, num campo de batalha. Também passava batido caso algum general do Pentágono resolvesse dizer que se tratava de um plano para cooptar os jovens da América.
No Japão, o game se chamava “Guevara” e não tinha conversa. No Brasil, a edição para Turbo Game, da CCE – que era um clone do cartucho 60 pinos do Famicom – foi batizado de “Revolution Heroes”. Subversivo, não é?
O game
“Guerrilla War” é um game estilo Run & Gun, com deslocamento Vertical Scroll (rolagem de cima para baixo). Na década de 1980 esse estilo visual era comum e derivava dos primeiros jogos de corrida, ainda nos anos 1970.
A versão para NES seguia o mesmo formato. Com opção de dois jogadores simultâneos, o game não difere muito de outros jogos de tiro como “Gun Smoke”. O game é intenso, com incontáveis soldados brotando na tela.
O jogador tem nas mãos uma metralhadora e granadas (estas que levam um tempo para recarregar após o uso). No entanto, durante a jornada, o jogador encontra diferentes armas, como lançadores de foguetes, lança-chamas, metralhadora pesada e escopeta. Há inclusive um tanque (que parece um fogão) e que não tem a melhor das blindagens.
Trincheiras
O jogador se encontra num fogo cruzado intenso. Para morrer basta levar um único tiro. Para se proteger dos disparos, há trincheiras e muretas. Inclusive, muitas dessas muretas precisam ser derrubadas com granadas.
A parte boa é que os “continues” são infinitos e retomam o game do ponto em que o jogador foi morto. A única penalidade é zerar o contador de pontos.
Cenários
Cada fase concluída, o jogador avança pelo mapa da ilha, que tem como grande final a fortaleza do tirano. Os cenários são tropicais, com floresta, rios, mar, vilarejos e até galerias de esgoto. Cada fase conta com barreiras que dificultam o caminho do jogador. E claro, zilhões de soldados, helicópteros e tanques disparando contra o jogador.
Metal Slug
Lembra das diferentes armas do game? Pois é, elas são basicamente as mesmas de “Metal Slug”, a famosa série dos fliperamas. “Guerrilla War” conta inclusive com aqueles prisioneiros de guerra, amarrados em postes, com no shooter moderno. A SNK não fala que extraiu os elementos do game de 1987, mas a inspiração é evidente.
Onde jogar
A edição para arcade pode ser encontrada para PS4 por R$ 43, ou na coletânea SNK 40th Anniversary Collection, com versões para PS4, Xbox One e Switch, que eleva o preço para R$ 200. Já a versão para NES demanda uma boa busca no mercado de usados. É possível encontrar o game em cartuchos pirateados com múltiplos títulos, com valores na casa dos R$ 60. No entanto, uma cópia selada para NES (72 pinos) pode chegar a R$ 2.400.
Palavra Final
Seja “Guevara” ou “Guerrilla War”, a produção da SNK é um excelente game. Intenso e com cenários variados, o título não deixa o jogador parar de jogar. Para quem é fã de retrogame é um game obrigatório.